O propósito de Daniel
O livro
do profeta Daniel começa pela narrativa de uma situação terrível: Nabucodonozor
conquistou Jerusalém e levou uma parte dos judeus para o exílio na Babilônia.
Daniel estava entre os prisioneiros. Era um momento difícil em sua vida. Foi
separado de sua família e levado cativo sem merecer. O cativeiro era uma
questão nacional e não pessoal. O povo de Deus foi derrotado e os ímpios
prevaleceram. Quem poderia entender tal situação?
Qual
seria a reação daquele moço diante de tamanha adversidade? Ele poderia se
revoltar contra Deus, tornando-se um questionador amargurado. Poderia ainda
adotar uma postura de vingança contra o rei da Babilônia, a quem deveria
servir. Outra decisão possível seria a de aproveitar os atrativos da capital do
império, que deveriam ser muitos.
Nós
também podemos enfrentar situações muito difíceis na vida, com ou sem
merecimento. Quantos servos de Deus se encontram em tribulações, sofrendo
perdas e dores. Diante de tudo isso, qual será a nossa reação?
Daniel
escolheu uma vida de fidelidade ao Senhor, apesar de todas as circunstâncias,
como está escrito: “Daniel, porém, propôs no seu coração
não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele
bebia” (Dn 1.8). É fácil ser fiel quando tudo vai bem, mas é no
meio da adversidade que a fidelidade tem maior valor.
Aquele
jovem estabeleceu um firme propósito de santificação. Onde já se viu um
prisioneiro recusar a comida do rei? Certamente, aquela mesa continha alimentos
considerados imundos perante a lei de Moisés.
Todo
servo de Deus precisa ter bons propósitos em sua vida. Um propósito não é
apenas uma decisão referente a um fato isolado, mas um alvo com diversos fatos
em seu caminho. Quem não tem um propósito poderá ser movido e levado pelos
ventos. O propósito é como um motor que leva o barco, com força e velocidade
rumo ao destino escolhido. Quem não tem propósito definido pode sentir grande
dificuldade para decidir, ou pode tomar decisões incoerentes que variam
conforme a circunstância e a conveniência.
Daniel
estava determinado a fazer a vontade de Deus. Hoje, muitas pessoas querem
determinar que Deus faça isso ou aquilo. Tal atitude é incoerente com o
evangelho.
Atualmente,
muitos fazem propósitos com Deus para ganharem coisas, mas o propósito do
profeta foi no sentido de renunciar aos prazeres impuros. Aí está a essência da
verdadeira espiritualidade. Temos muito a ganhar com a fé, mas algumas perdas
também fazem parte do processo.
Daniel
deixou belas lições para os cristãos, principalmente para os jovens. Por exemplo,
o cristão solteiro deveria determinar em seu coração jamais casar-se com uma
mulher ímpia. O cristão que é virgem deveria determinar manter seu estado até o
casamento ou até a morte. Alguns ficarão escandalizados com tais afirmações,
mas, afinal de contas, o cristianismo não é uma brincadeira. Se não tivermos
propósitos firmes, seremos levados pelos ventos do mundanismo que podem
conduzir ao inferno.
Na
sequência da história de Daniel, ficou demonstrado que seus propósitos não
caíram no esquecimento, mas produziram um modo de vida coerente, marcado pela
oração (6.10), pelo jejum (10.2-3) e dedicação à palavra de Deus (9.2).
Quando
temos um propósito com Deus e somos fiéis, descobrimos que ele também tem um
propósito especial para nós.
Daniel
e seus três amigos escolheram o caminho da renúncia (Dn 1.17) e Deus lhes
abençoou de modo maravilhoso e sobrenatural (Dn 1.17), concedendo-lhes dons de
inteligência, sabedoria, conhecimento, interpretação de sonhos e visões.
O servo
de Deus que renuncia aos atrativos do mundo jamais ficará no prejuízo. Deus dá
o que Nabucodonozor não pode dar e, sobretudo, nunca poderá tirar.
Foi
depois de tudo isso que Daniel tornou-se um dos maiores profetas de todos os
tempos. Seu ministério foi profético, escatológico, apocalíptico e messiânico.
As visões tornaram-se rotina em sua vida (7.7,13). A segunda metade do seu
livro é o “Apocalipse” do Antigo Testamento. Deus lhe deu a revelação do
retorno dos judeus à sua terra. Ele viu também cenas dos últimos dias e teve a
revelação da vida eterna (Dn 12.2), mas o mais importante: Daniel viu o Senhor
Jesus descendo sobre as nuvens (Dn 7.13).
O
profeta estava na Babilônia, mas sabia que aquele não era o seu lugar. Por
isso, vivia como um servo de Deus, um cidadão dos céus. Nós também estamos
neste mundo, mas sabemos que não somos daqui. Precisamos ter, portanto,
propósitos celestiais. Se tirarmos os olhos da comida podre do pecado, também
veremos o Senhor Jesus descendo do céu para nos buscar. Este é o resultado de
uma vida de fé e fidelidade.
Deus nos abençõe.
Almira