O ser humano ao longo dos anos foi perdendo aquilo chamamos de “senso do self”, ou seja, o processo desenvolvido pelo indivíduo em interação com seus semelhantes e através do qual se torna capaz de tratar a si mesmo como objeto, isto é, observar-se, considerando seu próprio comportamento do ponto de vista alheio e devido a esta perda desapareceu a linguagem de comunicados profundamente pessoais. Este é um importante aspecto da solidão vivida no mundo.
As palavras perdem o seu significado: amor, verdade, integridade, coragem, espírito, liberdade, perdão e até com o vocábulo “eu” (self). A maioria das pessoas dá as palavras conotações particulares que talvez sejam completamente diferentes das de seu vizinho. Daí muita gente evitar o uso de tais vocábulos.
Possuímos um excelente vocábulo para assuntos técnicos, segundo observou Erich Fromm, mas quando se trata de um inter-relacionament o pessoal significativo nossa linguagem torna-se pobre.
A perda da eficácia da linguagem, por estranho que pareça, é sintoma de uma época histórica conturbada.
Quando se estuda a ascensão e a queda de uma era nota-se que a linguagem é vigorosa e expressiva em determinados períodos, como o grego do século V antes de Cristo, época em que Ésquilo e Sófocles escreveram suas obras, ou o inglês elisabetano de Shakespeare e da tradução da Bíblia pelo Rei Jaime, e em outros períodos mostra-se débil, vaga e inexpressiva, como quando a cultura grega se dispersou e quase desapareceu. Penso que pesquisas poderiam demonstrar que quando uma cultura se encontra na fase histórica da evolução para a unidade, a língua reflete coesão e força; e quando se encontra em processo de transformação, dispersão e desintegração perdem o seu vigor.